Vimos por meio desta prestar nossa solidariedade à professora Ana Paula Penkala
diante da perseguição, tentativa de criminalização e pressão emocional que vem
sofrendo desde 14/10/2022 pelo Centro Acadêmico e estudantes do Centro de Artes,
bem como por outros apoiadores dentro desta universidade.
As opiniões manifestadas pela professora tanto em sala de aula quanto em reunião com
o Núcleo de Gênero e Diversidade não apenas estão protegidas pelo direito à livre
manifestação de pensamento (art. 5º da Constituição Federal) e pela autonomia e
liberdade de cátedra como são compartilhadas por milhões de mulheres mundo afora.
Como a professora, muitas outras mulheres já se manifestaram no sentido de que
mulheres trans são mulheres trans e mulheres são mulheres, sendo a escritora
Chinamanda Ngozi Adichie uma delas. Não por acaso, a escritora também já se colocou
publicamente contra a "cultura do cancelamento" que também está em jogo no caso da
professora Ana Paula Penkala.
A disputa no campo teórico e da linguagem acerca do tema não tem se dado apenas no
exterior e, a título de exemplo, recentemente no Brasil o debate sobre a expressão
"pessoas que menstruam" em substituição ao uso da palavra mulher foi levantado pela
filósofa Djamila Ribeiro, em sua coluna na Folha de São Paulo de 01/12/2022.
Ao acusar a professora de "transfobia" em postagens em redes sociais como esta as
organizações estudantis desta universidade estão promovendo o assassinato da
reputação da professora, arma misógina frequentemente utilizada contra mulheres e
uma tentativa de intimidação e silenciamento não apenas de Ana Paula mas de todas
as mulheres que frequentam a UFPel e porventura compartilhem de sua opinião.
Além disso, estão incorrendo nos crimes de calúnia e difamação ao acusá-la de um
crime que não cometeu.
A universidade deve ser um espaço de livre debate de ideias, de forma democrática.
Uma universidade pública tem um compromisso ainda maior com a liberdade de
pensamento, único campo fértil para uma produção científica rica e plural. Todos os que
estão vinculados a uma universidade devem se ater aos princípios democráticos,
incluindo o corpo discente.
Toda mulher tem o direito de se expressar publicamente a partir de sua vivência, visão
de mundo ou bagagem teórica, independente de sua ideologia, religião ou orientação
política. Na prática, no entanto, as mulheres ainda são impedidas de gozar plenamente
de tais direitos, sendo o único grupo ao qual atualmente não se concede lugar de fala
sobre a materialidade de sua existência e os impactos das políticas de auto-
identificação de gênero sobre seus direitos, o único grupo ao qual não se reconhece o
direito de produzir sua própria epistemologia.
O que as diversas organizações do corpo discente estão fazendo com a professora Ana
Paula Penkala é a perseguição a ideias contrárias às suas, mesmo sendo ideias
perfeitamente democráticas. Mais grave ainda, tal ataque à liberdade de expressão e
pensamento compromete todo o espaço democrático da universidade ao sinalizar que
é permitido perseguir publicamente mulheres de quem se discorde.
Solicitamos a esta Reitoria que tome as medidas cabíveis para garantir um amplo
debate em seu seio a respeito de democracia, liberdade de pensamento e o papel da
universidade em fomentar a troca de ideias entre seus membros. A cultura do
cancelamento que tem reinado nas universidades mundo afora prejudica tanto aqueles
que delas fazem parte quanto a sociedade como um todo, que se vê privada dos
benefícios de uma produção acadêmica rica e variada.
O papel da universidade, para além de formar futuros profissionais, é o de formar futuros
cidadãos. E não há futuro possível para o Brasil com uma juventude que não aprenda
na universidade a respeitar as opiniões divergentes e debate-las de forma democrática.
Assim, as abaixo assinadas organizações, mulheres e apoiadores solicitam à UFPel que
não dê seguimento à perseguição contra Ana Paula Penkala instaurando processo
administrativo disciplinar contra a mesma e que tome providências em relação à
atuação do Centro Acadêmico dos cursos de Cinema, dos estudantes e demais
envolvidos neste episódio, prezando assim a manutenção das condições essenciais
para o bom desenrolar da formação e da pesquisa acadêmica que são suas missões.
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